segunda-feira, 6 de abril de 2009

Uma decisão

E num piscar de olhos, tudo perdeu a cor. O azul do céu foi tomado por um tom cinza com algumas manchas mais claras, quase como mármore. Para onde teriam ido as cores? O amarelo alaranjado (ou vice-versa) do sol, até mesmo o verde musgo irritante da recepção da firma fazia falta.


Nenhuma das centenas piscadas de olhos seguintes resolveu. Tentava insistentemente, já beirando o desespero, devolver cor ao seu mundo.


Sentia-se dentro de um filme de Charles Chaplin, mas sem a genialidade de roteiro. As coisas ao seu redor não tinham mais vida. Que graça teria em comer jujubas? Sem contar que odiava as azuis, que agora eram cinza, como todo o resto.


Preocupava-se ainda mais com o seu hobby: era pintor nas horas vagas.


Um quadro vendido aqui, outro ali e o happy hour da sexta-feira estava garantido. Agora não mais. Como iria pintar sem nem sequer saber quais cores estão na paleta?


Tentou pintar mesmo assim. Só de birra. Na paleta somente tons de cinza, todos possível.


Mas foi em vão. Não sentiu a mesma sensação com o resultado de seu trabalho. E num surto quase psicótico, jogou a paleta na tela que acabara de pintar e nesse momento, tão repentinamente quanto foram, as cores voltaram ao seu olhar.


Depois deste episódio, prometeu nunca mais tomar chá de fita da década de 20.