quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A Salvação

Era um belo dia de sol. Ele saiu de casa preparado para a sua corrida matinal, estranhou a sua rua, que geralmente fica lotada a essa hora, estava vazia, nenhuma alma penada vagava por ali. Um silêncio que chegava a impressionar. O que ele mais estranhou foi o seu incômodo com o fato de não haver um só barulhinho, já que sempre reclamava com os vizinhos que aquela rua era barulhenta demais. Continuou andando e se alongando enquanto isso. Até mesmo o ponto de ônibus, que sempre tem uma grande muvuca, gente se acotovelando por todos os lados, xingando a família toda do companheiro de fila, estava completamente vazia.

Não é uma cidade muito grande, mas também nunca se chegou a ponto de ficar sem transeuntes. Não sabia se era alguma festa da cidade, ou qualquer outra coisa, não tinha o costume de assistir televisão (fato que causava um leve estranhamento para as pessoas ao seu redor), o que dificultava um pouco as coisas em relação ao conhecimento de certos fatos, como novelas, fofocas, e eventos na cidade. O importante é que ele estava indo para o seu descarrego matinal, aquela corridinha antes de ir trabalhar, pra começar o dia renovado. Com esse silêncio então, a corrida seria perfeita. Ele terminou o alongamento e começou a correr. Passou pelos pontos estratégicos de sempre, o parque, pra começar pela sombra, a padaria pra tomar um cafezinho, e pela farmácia, para admirar a beleza da moça do caixa. Tudo nos conformes, exceto pelo fato de que o parque estava completamente vazio, na padaria não estava nem o Seu Manoel (o dono), e a farmácia estava fechada, que foi o maior motivo de revolta para ele (a moça do caixa é realmente muito bonita). Mas enfim, é a vida.

E continuou com a corrida. Ainda não tinha conseguido entender a razão de não ter ninguém na cidade. Ao longe, umas 3 quadras dali, avistou uma pessoa. Apressou o passo, mas ao chegar mais perto viu que era um mendigo conhecido na região, por ser daqueles meio pessimistas. Carregava uma placa dizendo “Eu avisei”. E apesar de estar com uma imensa vontade de conversar com alguém, ele passou reto pelo mendigo, apenas dando bom dia. Foi direto para casa, e num ato de semidesespero (apenas uma pequena aflição), para saber o que ocorria, ligou a tv. Nada. Sem sinal algum. Somente o famoso canal do formigueiro lotava a tela. De repente, um barulho. Ensurdecedor. Nada que ele já havia ouvido antes, parecia um barulho de bomba. Mais um. Agora parecia mais perto. Saiu de casa, agora sim, desesperado, para ver o que acontecia. Tanques de guerra andavam pela cidade, aviões lotavam o céu azul, fumaça por todo lado. O país estava em guerra, e a cidade havia sido tomada pelas tropas adversárias. Moral da história: a televisão pode salvar sua vida.