segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Conversa

- Não, desliga você.
- Não não, você.
- Não, desliga você primeiro.
- Tsc Tsc, você.
- Tá bom vai, então a gente desliga ao mesmo tempo.
- Tá bom.
- 1, 2, 3...
Ouve-se um barulho: “tu tu tu tu”.
- Alô.
- Você desligou na minha cara.
- Eu? Claro que não.
- Desligou sim.
- Não desliguei.
- Então porque eu fiquei ouvindo o “tu tu tu”?
- Porque você não desligou.
- Não. Porque você desligou primeiro.
- Ah tá bom vai!
- Calma, amor. Desculpa, não quero brigar.
- Então pára de dizer que eu que desliguei.
- Já parei.
- Então tá, beijo!
- Não vai desligar na minha cara hein.
- Mas eu não desliguei!
- Eu sei, tô brincando.
- Então tá, desliga você primeiro então.
- Ah não desliga você.
Alguns relacionamentos são assim, metade do tempo você perde brigando, e a outra fazendo as pazes.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O Mistério Matinal

O relógio acusava seis e meia da manhã. Estava me preparando para tomar o café quando a campainha tocou, quem seria a essa hora? O correio claro. Um pacote destinado à minha casa, a mim. Era de um amigo muito próximo. Abri o pacote sem demora. Era um livro, porém, todas as páginas estavam em branco, exceto a primeira que dizia: “Em cada fim há um começo”. Estranhei, devia ser alguma brincadeira. Ao folhear o livro procurando por mais páginas escritas, deixo cair de dentro uma chave e um papel. Uma foto, meu amigo beijando uma moça. Não a conheço, o que me deixou mais intrigado. Porque meu amigo me mandaria um livro com uma foto dele e uma mulher? Ao virar a foto (não sei bem porque a virei, é estranho) vejo escrito um endereço: “Praça da Luz, 1 – armário nº 234”. Não é preciso andar muito de metrô, ou trem, para saber que aquele era o endereço da Estação da Luz.

Minha curiosidade não me deixou ir ao trabalho, inventei uma gripe forte e contagiosa (com um nome bem difícil para ficar mais convincente), e me dirigi sem delongas ao endereço. Corri para chegar ao armário 234 e ao abrir encontro outra chave e outra foto. Agora era outro homem, porém com a mesma mulher que estava com meu amigo. Atrás da foto, mais uma coordenada: “Aeroporto Internacional de Cumbica – Armário nº 432 na área de embarque”. Aquele mistério já começava a ficar caro, só a gasolina que gastaria para ir para lá já pagava meu café da manhã, que aliás, eu não havia tomado. Resolvi parar na Starbucks (não fica exatamente no caminho, mas resolvi fazer um esforço). Pedi um Café Mocha com bastante chocolate, um Wrap de presunto cru e cream cheese e um cookie pra finalizar. Desfrutei aquele momento como se fosse o último de minha existência. Só depois de devorar a última gota de chocolate do cookie, me lembrei de minha missão. Destino: Aeroporto Internacional de Cumbica.

Já no aeroporto, não perdi tempo e fui procurar o armário de nº 432. Achei. Abri e não acreditei, mais uma foto. Essa não era lá muito agradável, o homem, que na foto anterior estava com a mulher que na outra foto estava com o meu amigo, caído no chão com uma poça de sangue ao lado de sua cabeça. Dava para ver uma parte do ambiente na foto. Parecia ser um hotel, dos grandes, na colcha da cama dava pra ver o logo do Grand Melià Hotel, excelente lugar por sinal. Fui direto para lá. Ao chegar me dirigi à recepção e perguntei pelo meu amigo. A moça me disse que ele havia estado lá há dois dias, com uma mulher, e bagagens grandes. Não mencionou o fato de um homem possivelmente ter morrido naquele quarto, também, não creio que fosse uma boa publicidade para o hotel. Então a moça me deu um bilhete. Ela disse que meu amigo havia-o deixado para mim, sabendo que eu passaria por lá. Comecei a ficar bastante preocupado com ele, suspeitava que algo sério tivesse acontecido, também pudera, a foto de um homem morto não traz idéias muito boas. Li o bilhete:


Se você estiver lendo este bilhete significa que algo deu errado e que eu já estou bem longe. Mas não se preocupe comigo, estou bem, acho que vou me casar, quero você como padrinho. Assim que possível eu te ligo. Enquanto isso, preciso muito da sua ajuda, vá à minha casa, tenho algo guardado pra você. Abraço!”.

ps.: a chave está dentro do interruptor da campainha.”


Claro, como não? Ele me dá uma foto de um homem morto, some e me diz que está tudo bem. Se bem que isso parece ser bem a cara dele. Fui até o apartamento, a chave estava exatamente onde dizia o bilhete. Fui entrando com cuidado, não sabia o que poderia encontrar lá. Estava muito escuro, ao abrir completamente a porta, ouço um barulho de buzina e pessoas gritando. As luzes se acendem e eu vejo meu amigo, com sua nova namorada, o homem “morto” ao lado deles (era o irmão dela), e uma grande faixa de parabéns. Foi então que eu me lembrei, era meu aniversário, e eles resolveram fazer algo mais do que apenas uma festa surpresa. Mas não me culpe por esquecer. Com aquele mistério todo começando às seis e meia da manhã, quem se lembraria?

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A Salvação

Era um belo dia de sol. Ele saiu de casa preparado para a sua corrida matinal, estranhou a sua rua, que geralmente fica lotada a essa hora, estava vazia, nenhuma alma penada vagava por ali. Um silêncio que chegava a impressionar. O que ele mais estranhou foi o seu incômodo com o fato de não haver um só barulhinho, já que sempre reclamava com os vizinhos que aquela rua era barulhenta demais. Continuou andando e se alongando enquanto isso. Até mesmo o ponto de ônibus, que sempre tem uma grande muvuca, gente se acotovelando por todos os lados, xingando a família toda do companheiro de fila, estava completamente vazia.

Não é uma cidade muito grande, mas também nunca se chegou a ponto de ficar sem transeuntes. Não sabia se era alguma festa da cidade, ou qualquer outra coisa, não tinha o costume de assistir televisão (fato que causava um leve estranhamento para as pessoas ao seu redor), o que dificultava um pouco as coisas em relação ao conhecimento de certos fatos, como novelas, fofocas, e eventos na cidade. O importante é que ele estava indo para o seu descarrego matinal, aquela corridinha antes de ir trabalhar, pra começar o dia renovado. Com esse silêncio então, a corrida seria perfeita. Ele terminou o alongamento e começou a correr. Passou pelos pontos estratégicos de sempre, o parque, pra começar pela sombra, a padaria pra tomar um cafezinho, e pela farmácia, para admirar a beleza da moça do caixa. Tudo nos conformes, exceto pelo fato de que o parque estava completamente vazio, na padaria não estava nem o Seu Manoel (o dono), e a farmácia estava fechada, que foi o maior motivo de revolta para ele (a moça do caixa é realmente muito bonita). Mas enfim, é a vida.

E continuou com a corrida. Ainda não tinha conseguido entender a razão de não ter ninguém na cidade. Ao longe, umas 3 quadras dali, avistou uma pessoa. Apressou o passo, mas ao chegar mais perto viu que era um mendigo conhecido na região, por ser daqueles meio pessimistas. Carregava uma placa dizendo “Eu avisei”. E apesar de estar com uma imensa vontade de conversar com alguém, ele passou reto pelo mendigo, apenas dando bom dia. Foi direto para casa, e num ato de semidesespero (apenas uma pequena aflição), para saber o que ocorria, ligou a tv. Nada. Sem sinal algum. Somente o famoso canal do formigueiro lotava a tela. De repente, um barulho. Ensurdecedor. Nada que ele já havia ouvido antes, parecia um barulho de bomba. Mais um. Agora parecia mais perto. Saiu de casa, agora sim, desesperado, para ver o que acontecia. Tanques de guerra andavam pela cidade, aviões lotavam o céu azul, fumaça por todo lado. O país estava em guerra, e a cidade havia sido tomada pelas tropas adversárias. Moral da história: a televisão pode salvar sua vida.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Click

É incrível como certas pessoas têm um imã para grandes sucessos. Visto os empresários de astros como Tiririca, e sua cria não menos famosa, Tirulipa, ou Frank “O Cãozinho dos Teclados” Aguiar. E é fenomenal como algumas pessoas fazem de tudo pra aparecer, subir, ou se manter no topo da cadeia alimentar, no caso, as colunas sociais. É só ligar a TV para admirar as grandes produções, as novelas que não te deixam desgrudar os olhos da tela, e algumas peripécias das celebridades. E tem gente que faz de tudo pra ficar ao lado delas, como os paparazzo. Um pouco de cultura útil: o nome paparazzo (paparazzi no plural) foi popularizado por Frederico Fellini, em 1960, com o filme “La Dolce Vita”, onde um dos personagens era um fotógrafo chamado Paparazzo, cujo nome fora escolhido a dedo por Fellini, menção a um mosquito siciliano denominado “paparaceo”. Sim, esses são os maiores acompanhantes dos astros, mais até do que suas próprias sombras. Agora, teriam os paparazzi vida própria? Já que, não sei se já reparou alguma vez, mas as celebridades são pessoas, que saem, comem, tropeçam, vão ao banheiro, enfim, paremos por aqui. É engraçado, porque geralmente, o momento em que astros e estrelas são fotografados, é justamente na folga, no dia em que vão à praia fazer topless, ou jogar futvôlei, ou quando vão correr no parque, ou seja, justamente no tempo em que são pessoas normais. A questão é: se os paparazzi estão ocupados na hora de folga das celebridades, quer dizer que a hora de folga deles é quando os famosos estão trabalhando? Não exatamente, já que os horários das estrelas são bem variados. O que confirma a minha tese: os paparazzi não têm vida social. Eles estão sempre trabalhando, não importando a hora ou lugar. O que dá muito sentido a idéia de Fellini. Os mosquitos nascem, crescem, nos infernizam, cruzam, e morrem.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

A Revolta Canina

Houve tempos em que o modo de resolver as coisas no mundo animal era mais civilizado, o rato atazanava o gato, que comia o rato e pronto, situação resolvida. Ou o gato que ficava enchendo o cachorro que não sossegava enquanto não pegasse o gato. Mas as coisas estão um tanto diferentes agora. Virou uma festa, é gato amigo de cachorro, cachorro amigo de rato, e inimigo de cachorro, gato amigo de gente (me desculpem os admiradores deste animal, mas eles são um tanto traiçoeiros geralmente, fora a folga).

Mas meu relato não é sobre eles, e sim sobre o tão dito “melhor amigo do homem”, sim ele mesmo, o cão. Aconteceu com um amigo meu (o bom de se escrever contos é a possibilidade de se manter a identidade oculta, ou não). E lá estava ele brincando com um belo espécime, um bicho bem conhecido pelas mulheres, por ser como elas dizem, “fofinho”. Um Yorkshire. Sim este pequeno, porém valente, animal, e pequeno não é modo de dizer, estava a se deliciar com as carícias do meu “amigo” (não pense em nada sujo, apenas uma inofensiva coceguinha na barriga). Porém a mão do meu “amigo” começou a fazer as cócegas com uma velocidade maior, e mais fortes, já que o animal, apelidado ironicamente de “Gigante”, parecia gostar. Não sei quais são os limites permitidos ao se fazer cócegas em um cachorro, mas ao chegar com as mãos em uma região próxima à costela, o “Gigante” deu um salto ornamental, digno da nossa campeã Ginástica Olímpica, e tentou com sua enorme boca, e seus dentes afiados, arrancar a mão do meu “amigo”, que se levantou rapidamente, não entendendo absolutamente nada. O furioso animal não ficou satisfeito com o susto que tinha dado ao pobre rapaz, e tentou lhe morder o joelho, sim o joelho. Mas porque não o pé (que estava descalço), ou a própria mão criminosa? Porque o joelho?

A sorte do pobre garoto é que a agora incontrolável fera estava sobre duas patas logo à frente de seus pés. Não hesitou, e com um movimento sagaz, o rapaz movimentou o pé direito num ângulo de mais ou menos noventa graus, e tirou o contato que as patas do animal tinham com o chão, fazendo com que a fera caísse de lado, e saísse correndo pelo apartamento de chão de madeira, deixando no ar apenas o barulho de suas garras afiadas, batendo no taco. Seria esse um sinal? De que os cachorros estão se revoltando contra o homem. Mas o que faria a humanidade sem seus melhores amigos? Nos rebaixar a pedir a amizade dos gatos é que nós não vamos.

Vício

Eram nove da manhã. Ele acordou, abriu os olhos, e como de costume, esperou alguns segundos para se levantar. Pronto, agora estava preparado para começar o dia. Exceto por um detalhe: não conseguia se mexer. Apenas do pescoço para cima. Logo pensou que só podia estar sonhando, então fechou os olhos, e ao abrir tentou se levantar num só movimento. Levantou apenas a cabeça.

Era um homem calmo, mas nesse momento, um enorme desespero tomou o lugar de sua paciência. Usou de todas as suas forças para tentar se mover. Inútil. Deitou a cabeça no travesseiro novamente. Agora, lágrimas caíam dos seus olhos. Ele que nunca chorava, estava agora aos prantos. Como poderia acontecer algo assim? Não havia registro de paralisia em sua família, nem convulsões, ou qualquer coisa que pudesse explicar o que se passava. As lágrimas agora paravam de cair. Ele começava a ficar tranquilo novamente, afinal, não era um homem tenso. Respirou fundo. Começou a pensar no que poderia ter causado sua atual situação. Era uma pessoa extremamente calma, e não tinha sofrido nenhuma frustração recentemente. Apenas uma: não conseguira, na noite anterior, comprar o pão doce que comia com freqüência, todos os dias. Mas não era possível, algo tão simples não poderia deixar um homem tão calmo, contrariado o bastante para torná-lo imóvel. Não entendia de jeito algum o que estava acontecendo.

Tentou relaxar novamente. Pôs-se a observar o quarto. O teto definitivamente estava precisando de uma pintura. Um vazamento, já consertado, o havia manchado quase todo. Não teve tempo para pintar, era muito ocupado. Olhou para o lado. Viu pela janela, trincada por uma chuva de granizo ocorrida no mês anterior, que o dia estava ótimo, ensolarado, perfeito para uma corrida, coisa que não fazia há meses, andava muito ocupado. Virou com a cabeça para o outro lado e viu o armário, a porta da esquerda estava caída em cima da outra, resultado de um dia em que chegou frustrado em casa, por ter brigado com a namorada. Coisa que não era de seu feitio, pois era muito calmo. Inclinou um pouco a cabeça e viu o computador, em cima da escrivaninha, com papéis empilhados por todos os lados. Andava muito ocupado para organizá-los. Ao lado, uma caixa de jóia. Em cima da escrivaninha também estava um saco de papel amassado, do pão doce que havia comido outro dia. Lembrou-se de que não tinha comido na noite anterior. Novamente, não deu importância para o fato e continuou a análise de seu próprio quarto. Levantou a cabeça e olhou para a parede oposta. Lá estava sua última aquisição, um televisor de plasma de 50 polegadas. Em volta dele, a parede com a pintura rachada, já que não dava um retoque há algum tempo. Estava ocupado demais para se preocupar com algumas rachaduras. Um pouco mais abaixo, encontrava-se o rack com o som estéreo que comprara na mesma semana da tv.

Deitou a cabeça novamente e começou a pensar. Lembrou da namorada, tão amada, que não via há dois dias, pois estava extremamente ocupado. Lembrou do dia em que comeu pela primeira vez, o pão doce, que se tornou seu companheiro de todas as noites, algumas vezes, substituindo a namorada. Era realmente muito bom, nem tão doce, ou salgado, no ponto certo. Lembrou-se do dia em que havia quebrado a porta do armário. O dia em que brigou com a namorada. Por causa do pão doce. Pensou então no dia da chuva de granizo. Estava em casa, com a namorada, comendo o pão doce. Lembrou-se do dia anterior, o dia que ele não comeu o pão doce. Na verdade, lembrou apenas do fato de não ter comido o pão, e mais nada. Voltou a pensar na namorada. No pão. Na namorada. No pão. De repente foi acometido de um sono incontrolável, não conseguiu resistir, dormiu.

Acordou às nove da manhã, como de costume. Abriu os olhos e num só movimento, se levantou. Podia se mexer normalmente. Não esperou um segundo. Saiu da cama. Foi ao mercado e voltou com uma lata de tinta, um pedaço de vidro, massa e parafusos. Pintou o teto, a parede. Tirou o resto do vidro que sobrava na janela e substituiu pelo novo. Parafusou a porta do armário. Pegou todos os papéis, incluindo o saco do pão doce, e jogou no lixo. Pegou a tv e o som e os levou a uma loja de aparelhos usados. Vendeu ambos. Suava, não conseguia entender muito bem o que estava acontecendo, estava agitado, ele que era um homem tão calmo, não conseguia ficar parado. Chegou em casa, pôs sua roupa de corrida, que estava com um leve cheiro de mofo, afinal, não usava há meses. Nem ligou. Pôs o tênis e saiu. Foi correr. No caminho resolveu passar na casa da namorada. Ela morava há 15 quarteirões de seu prédio. Chegou num instante. Respirou fundo. Ela, sem entender nada, permaneceu em silencio, apenas esperando, não sabia o que, mas esperando. Ele tirou do bolso a caixa de jóia que estava em cima da escrivaninha. Ajoelhou-se em frente à namorada e a pediu em casamento. Ela estranhou o pedido, feito tão repentinamente, mas aceitou sem pensar duas vezes. Entraram na casa. Ele nunca mais teve nenhuma experiência parecida com a do dia anterior, não conseguiu descobrir se foi um sonho, ou se acontecera realmente. Nunca mais comeu o pão doce.

#1

Não sei se por sorte, azar, destino, ou se alguém passou o link, você acabou entrando neste blog. Os contos e crônicas que aqui estarão, não terão, necessariamente, temas profundos e de difícil entendimento. São somente, como diz o nome, para que você, e eu, possamos nos distrair. Espero que goste.
E para manter a política de boa vizinhança: seja Bem Vindo(a) e Volte Sempre!