sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O Mistério Matinal

O relógio acusava seis e meia da manhã. Estava me preparando para tomar o café quando a campainha tocou, quem seria a essa hora? O correio claro. Um pacote destinado à minha casa, a mim. Era de um amigo muito próximo. Abri o pacote sem demora. Era um livro, porém, todas as páginas estavam em branco, exceto a primeira que dizia: “Em cada fim há um começo”. Estranhei, devia ser alguma brincadeira. Ao folhear o livro procurando por mais páginas escritas, deixo cair de dentro uma chave e um papel. Uma foto, meu amigo beijando uma moça. Não a conheço, o que me deixou mais intrigado. Porque meu amigo me mandaria um livro com uma foto dele e uma mulher? Ao virar a foto (não sei bem porque a virei, é estranho) vejo escrito um endereço: “Praça da Luz, 1 – armário nº 234”. Não é preciso andar muito de metrô, ou trem, para saber que aquele era o endereço da Estação da Luz.

Minha curiosidade não me deixou ir ao trabalho, inventei uma gripe forte e contagiosa (com um nome bem difícil para ficar mais convincente), e me dirigi sem delongas ao endereço. Corri para chegar ao armário 234 e ao abrir encontro outra chave e outra foto. Agora era outro homem, porém com a mesma mulher que estava com meu amigo. Atrás da foto, mais uma coordenada: “Aeroporto Internacional de Cumbica – Armário nº 432 na área de embarque”. Aquele mistério já começava a ficar caro, só a gasolina que gastaria para ir para lá já pagava meu café da manhã, que aliás, eu não havia tomado. Resolvi parar na Starbucks (não fica exatamente no caminho, mas resolvi fazer um esforço). Pedi um Café Mocha com bastante chocolate, um Wrap de presunto cru e cream cheese e um cookie pra finalizar. Desfrutei aquele momento como se fosse o último de minha existência. Só depois de devorar a última gota de chocolate do cookie, me lembrei de minha missão. Destino: Aeroporto Internacional de Cumbica.

Já no aeroporto, não perdi tempo e fui procurar o armário de nº 432. Achei. Abri e não acreditei, mais uma foto. Essa não era lá muito agradável, o homem, que na foto anterior estava com a mulher que na outra foto estava com o meu amigo, caído no chão com uma poça de sangue ao lado de sua cabeça. Dava para ver uma parte do ambiente na foto. Parecia ser um hotel, dos grandes, na colcha da cama dava pra ver o logo do Grand Melià Hotel, excelente lugar por sinal. Fui direto para lá. Ao chegar me dirigi à recepção e perguntei pelo meu amigo. A moça me disse que ele havia estado lá há dois dias, com uma mulher, e bagagens grandes. Não mencionou o fato de um homem possivelmente ter morrido naquele quarto, também, não creio que fosse uma boa publicidade para o hotel. Então a moça me deu um bilhete. Ela disse que meu amigo havia-o deixado para mim, sabendo que eu passaria por lá. Comecei a ficar bastante preocupado com ele, suspeitava que algo sério tivesse acontecido, também pudera, a foto de um homem morto não traz idéias muito boas. Li o bilhete:


Se você estiver lendo este bilhete significa que algo deu errado e que eu já estou bem longe. Mas não se preocupe comigo, estou bem, acho que vou me casar, quero você como padrinho. Assim que possível eu te ligo. Enquanto isso, preciso muito da sua ajuda, vá à minha casa, tenho algo guardado pra você. Abraço!”.

ps.: a chave está dentro do interruptor da campainha.”


Claro, como não? Ele me dá uma foto de um homem morto, some e me diz que está tudo bem. Se bem que isso parece ser bem a cara dele. Fui até o apartamento, a chave estava exatamente onde dizia o bilhete. Fui entrando com cuidado, não sabia o que poderia encontrar lá. Estava muito escuro, ao abrir completamente a porta, ouço um barulho de buzina e pessoas gritando. As luzes se acendem e eu vejo meu amigo, com sua nova namorada, o homem “morto” ao lado deles (era o irmão dela), e uma grande faixa de parabéns. Foi então que eu me lembrei, era meu aniversário, e eles resolveram fazer algo mais do que apenas uma festa surpresa. Mas não me culpe por esquecer. Com aquele mistério todo começando às seis e meia da manhã, quem se lembraria?